29 de Junho - São Pedro

Nascido na Galiléia, o nome verdadeiro de São Pedro deveria ser Simeão que, por influência do grego (Símon) foi corrompido para Simão. Foi pescador e tornou-se um dos doze apóstolos de Cristo. Segundo a religião católica, São Pedro é considerado o primeiro Bispo de Roma, ou seja, o primeiro Papa da Igreja Católica.

 
(São Pedro - Fonte: Brasil Cultura)



(Detalhe da pintura de São Pedro, por Grão Vasco, 1506 - Fonte: Internet)


Cristo havia rebatizado o apóstolo para o nome de Kepha ("Cefas", em português), que em aramaico significa "pedra", "rocha". Traduzido para o grego ("Petros"). Foi provavelmente a partir desse período em que surgiram as crendices populares de que São Pedro havia ganho as chaves do céu por ter sido escolhido como líder. São Pedro foi perseguido pelos romanos, crucificado e enterrado em uma região próxima a Roma, conhecida como Vaticanus.


("A Crucificação de São Pedro", de Caravaggio, 1600 - Fonte: Internet)


São Pedro é um dos três santos homenageados durante a Festa Junina. Além dele, há São João, comemorado no dia 24 de Junho e Santo Antônio, cuja festa acontece no dia 13 de Junho. O dia de São Pedro seria, na realidade, a cristianização de um culto pagão a Rômulo e Remo, os mitológicos fundadores pagãos de Roma. Rômulo foi o fundador e primeiro rei da cidade de Roma. Segundo a lenda, Rômulo e Remo eram filhos de Marte e de Reia Sílvia (ou Rhea Silvia) e teriam sido amamentados por uma loba. SPQR, que aparece na gravura abaixo, é um acrônimo para a frase latina Senatus Populusque Romanus. A tradução é "O Senado e o Povo Romano".


(Gravura de Rômulo e Remo e a Loba Romana)


"Quando Roma tornou-se a cidade mais importante do mundo, era preciso que se lhe desse uma origem mítica e esplendorosa, que deixasse aquém a verdade de ter sido fundada por simples pastores. Desprovidos da tradição escrita na época da fundação, a Roma emergente, poderosa e dona do mundo antigo, utilizou-se da tradição oral para explicar poeticamente, através de várias lendas existentes, o seu nascimento. Movidos pela assimilação da cultura helênica, os romanos tomaram para si vários dos deuses da mitologia grega, assimilando-os aos seus próprios. Aceitar abertamente a influência da cultura dos helenos era para os romanos um acinte no orgulho latino. Para contrapor-se aos gregos, os romanos foram buscar como fundador um descendente do mito de Enéias, herói troiano, único sobrevivente da guerra, que teria fugido da Ásia Menor e aportado na península Itálica. Da prole de Enéias surgiriam os gêmeos Rômulo e Remo, filhos do deus Marte com uma mortal. Rômulo teria sido o fundador da maior cidade da antiguidade e o seu primeiro rei." (1)


(Monumento a Rômulo e Remo em Passo Fundo, RS - Foto: Roberto Martio)


O monumento dos 130 anos da Imigração Italiana localiza-se no Rio Grande do Sul (RS) e homenageia a lenda romana de Rômulo e Remo. O artista passo-fundense Paulo Câmera Bonora, que desenvolveu a Loba Romana, levou um mês para finalizar a obra. "Foram usados cerca de 500 kg de sucata. O monumento está exposto na Coluna Romana na Av. Presidente Vargas, em Passo Fundo, Rio Grande do Sul (RS)." (2)


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Fontes:
(1) "Roma" (Virtualiaomanifesto.blogspot.com)

(2) "Loba Romana" (Projetopassofundo.com.br)

Grupo Troupernas de Pau

Arcoverde é um município considerado a porta de entrada do sertão pernambucano. "Antiga povoação e sede do Distrito de Olho d’Água, situada no então município de Cimbres, Arcoverde passou por outras denominações como Olho D’Água dos Bredos e Rio Branco, enquanto foi parte do município de Pesqueira." (1)


(Foto: Bio Quirino)


Região rica em manifestações populares como a dança, teatro e a música, Arcoverde é berço de cantadores e poetas. Dentre eles destaca-se o Grupo Troupernas de Pau e Teatro, uma oficina permanente de equilíbrio e mobilidade em pernas-de-pau de Arcoverde.


(Foto: Bio Quirino)


Segundo Romualdo Freitas, criador e diretor do grupo teatral, "a maioria dos integrantes da equipe é remanescente do Grupo Espantalho, de Arcoverde, que já vem experimentando o exercício do teatro há 16 anos. Seguimos essa linhagem porque a cidade não tem espaço físico específico para teatro. As apresentações acontecem na rua ou em espaços alternativos. A idéia da 'Quadrilha' surgiu no São João de Arcoverde, em que a prefeitura promove artistas locais." (2)


(Apresentação do grupo folclórico pernambucano - Foto: Patricia Telles)


Durante as festividades de São João, o grupo teatral apresenta a peça "Quadrilha, um romance sertanejo". Os figurinos simples e coloridos ganham vida ao som de canções populares, como "Usina", de Mestre Ambrósio. (Clique aqui para ouvir a música).


(Foto: Bio Quirino)


"'Quadrilha' conta a história do romance entre Zé Bebelo, que não queria se casar por nada nesse mundo, e Quitéria, filha do coronel e a moça mais rica da cidade. Ela já está passando da idade de se casar e morre de medo de ficar para titia. Quando o pai de Zé, Sifrônio, está a ponto de esganar o filho para que ele case logo, eis que surge uma versão sertaneja do mitológico cupido, deus do amor. Em vez de usar flecha, ele atinge em cheio o coração do rapaz com uma baleadeira. Mais nordestino, impossível. Zé fica apaixonado no ato e só quer saber de ficar com Quitéria, mas o casal de pombinhos é flagrados em um 'amasso' pelas três maiores fofoqueiras da cidade, que tratam de espalhar aos quatro ventos que Quitéria perdeu a virgindade antes do casamento. 'Sou coroa, mas faço questão de casar moça', espalha aos quatro ventos. Não falta ironia nas cenas do casamento, celebrado por um padre mesquinho que cobra a cerimônia por hora, enquanto os personagens entoam uma música do padre Marcelo Rossi. Tem até uma prostituta que tenta impedir o casamento dizendo que tem um filho com Zé e um casal de cangaceiros que chega atirando para todo lado, mas nada impede que o amor culmine, claro, em uma quadrilha de São João." (3)


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Fontes:
(1) "Arcoverde" (Destinopernambuco.com.br)

(2) "Romualdo Freitas" (Uol.com.br/JC/teatro/coxia10.htm)

(3) "Troupernas" (Uol.com.br/JC/teatro/coxia10.htm)

Comidas típicas da Festa Junina


A comemoração junina surgiu no período pré-gregoriano, com a celebração do solstício de verão, conhecida como Festa da Colheita. Com o domínio da religião Católica, a festa foi rebatizada com o nome de Festa de São João, a popular Festa JuninaSegundo Gilberto Freyre, "o açúcar refinou o paladar brasileiro, dando-lhe densidade histórica por intermédio dos doces e bolos."


(A tradicional culinária brasileira durante as comemorações de Festa Junina - Foto: Link Atual)


Trazida pelos portugueses durante o período de colonização e influenciada por elementos culturais de outras regiões da Europa (principalmente Espanha e França), as comidas típicas da Festa Junina foram se enriquecendo com o decorrer dos anos, ganhando características peculiares com as culturais locais das regiões brasileiras.


Arroz doce

Há registros do preparo de arroz cozido em leite com açúcar desde o século XV a.C. Anteriormente aos portugueses, os árabes já conheciam o arroz-doce (a mistura de arroz, leite e açúcar) e o arroz-de-leite (composto por arroz, leite, açúcar e gemas de ovos). Foram os árabes que difundiram essas misturas pela península Ibérica, sul da França e Itália.




A partir de então a fama do arroz doce se espalhou por toda a Europa. O próprio étimo "arroz" provém do árabe (ar-ruzz). "A cor dourada que o melaço lhe conferia passou ao branco característico, já no século XIII, quando se começou a utilizar açúcar refinado. O século XVIII marca o momento do baptismo desta sobremesa, que revela todo o seu encanto em todos os livros de receitas europeus." (1)


(Frontispício do Colóquio dos Simples,
de Garcia de Orta - Goa, 1563 - Fonte: Wikipedia)


Em 1563, o médico judeu português Garcia da Orta fez o primeiro registro em língua portuguesa de uma receita cujos ingredientes principais eram o arroz e o leite. Orta citava o arroz-de-leite, tradicional em seu país, Portugal. Entretanto, este arroz-de-leite não tinha adição de açúcar e, por isso, não era considerado uma sobremesa. (Era, na realidade, uma espécie de acompanhamento de carnes e peixes). No Brasil, com o cultivo da cana-de-açúcar, a mão de obra escrava abundante e a tradição doceira dos portugueses, as iguarias aqui produzidas enriqueciam-se, ganhavam sabores tropicais reinventadas pelas mãos de habilidosas cozinheiras.


Milho verde e bolo de fubá

Fubá (do quimbundo, fuba: farinha) é a farinha fina feita com milho ou arroz moído. Anteriormente ao consumo em terras brasileiras, o milho já era consumido pelos povos maias, astecas e incas; povos estes, que ficaram conhecidos historicamente como "civilizações do milho", por conta do consumo relevante deste e também da relação mística que tinham para com o cereal. Também no século IX, o milho já era cultivado em algumas regiões da África sub-saariana. Talvez por esse motivo é possível compreender o consumo de fubá e derivados entre os escravos no Brasil.




Há registros do consumo relevante de milho durante a Idade Média. Naquela época era comum o consumo de sopas, pois além deste ser um alimento quente (o que auxiliava na manutenção da temperatura, principalmente nos períodos de inverno), também era um prato simples em seu modo de preparo. Geralmente cozinhava-se uma carne (que era conservada salgada), em água fervente, junto a algum cereal pilado para ser transformado em farinha (muito comumente o milho), além de legumes.


(Alimentação na Idade Média - ilustração: autor desconhecido)


"Há menções ao uso e consumo do milho miúdo (milium) e do milhete (panicum) entre os etruscos, célebres e desenvolvidos ancestrais dos romanos. Não se tratava, evidentemente, do milho verde encontrado em terras americanas, mas é importante lembrar esse registro tão antigo sobre parentes próximos do Zea Mays (nome científico). As menções ao milhete e ao milho miúdo na história européia (...) estendem-se também ao Medievo. Nesse outro período verifica-se que o consumo desses cereais constituiu um adendo alimentar expressivo para alguns períodos do ano, particularmente para as épocas de crise." (2)

A cultura do milho foi introduzida em Portugal em meados do século XVI no Baixo Mondego, na zona de Coimbra. No Brasil, os índios (principalmente os guaranis), tinham o cereal como o principal ingrediente de sua dieta. Com a chegada dos portugueses, o consumo aumentou e novos produtos à base de milho foram incorporados aos hábitos alimentares dos brasileiros. "Só há relato do uso de milho nos doces no começo do século 17. Embora o grão já fosse conhecido pelos índios, portugueses e escravos, não era então muito valorizado na alimentação e servia mais como ração dos animais. Isso até as portuguesas o incorporarem às receitas. O milho passou a entrar na composição de bolos e pudins, que saíam das mãos delas; papas, angus e mungunzás eram obra das mãos das negras." (3)


Maçã do amor

A evolução da macieira iniciou-se há milhões de anos, tendo como centro de origem a região entre o Cáucaso e o leste da China. A maçã foi uma importante fonte alimentícia em todos os climas frios. À exceção das frutas cítricas, a maçã pode ser conservada durante mais tempo, preservando grande parte de seu valor nutritivo.



("A Virgem e o menino", de Lucas Cranach - 1525-1530,
Eremitério de São Petersburgo, Rússia)


Durante a Baixa Idade Média (a partir do século XIII) a maçã passou a ter um sentido ambíguo: além de representar simbolicamente a transgressão de Adão e Eva ao Éden, a inserção da maçã nas mãos do menino Jesus e em Maria fazia alusão à absolvição do pecado e à vida eterna. "A maçã também está ligada ao simbolismo da árvore, eixo do mundo, associada à cruz e a Cristo. Como se acreditava que o conhecimento vinha do alto, uma metáfora era a arbor inversa, cujas raízes estão no céu, sendo Cristo o mais belo fruto enviado pelo céu (Deus) à terra (Maria)." (4)


(Foto: Grand Chefs)


A Maçã do Amor foi trazida para o Brasil pela família espanhola Farré. O doce foi patenteado em 1958 e, dois anos depois, foi instalada a primeira marquise do Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP) onde, naquela época, costumava-se comemorar o Carnaval.


Pé-de-moleque

Com a chegada da cana-de-açúcar ao Brasil no século XVI, o pé-de-moleque surgiu a partir da mistura do amendoim torrado (um produto natural da América Latina) à rapadura, trazido pelos escravos (originário das Ilhas Canárias, na Espanha).


O cultivo do amendoim no Brasil estabeleceu-se de modo particular na região do Acre, em 1959. "Quando os imigrantes do Japão chegaram a Quinari, em 1959, o plano era viver da borracha da seringueira. Pelo menos, era o que prometia o governo brasileiro da época que incentivou a ida dos japoneses para lá. Mas, sem assistência, o cultivo e a produção não evoluíram como o esperado, e das 13 famílias que se instalaram na região inicialmente, apenas duas remanesceram. Uma delas é a de Hiroschi Nishizawa, que desembarcou no Brasil aos 4 anos de idade. (...). A família passou então, a cultivar uma outra variedade, mais comum no Brasil, chamada de vermelhinho por ser pequeno e de casca vermelha. Por dez anos, o cultivo desse amendoim ajudou no sustento da casa." (5)



(Ichi e Masashi Nishizawa, anos 70, pioneiros no cultivo do amendoim - Foto: Nippobrasil)


(Moendas dos engenhos, século XVI - Ilustração: autor desconhecido)


Considerada a capital nacional do pé-de-moleque, a cidade de Piranguinho, no sul de Minas Gerais, produz o doce há mais de 75 anos. "A festa é realizada desde 2006 e já começou com a fabricação de um pé de moleque gigante, na época com 11 metros de comprimento. Com o passar dos anos, o tamanho foi aumentando e desta vez, o doce chegou a marca de 16 metros de comprimento, mais que o suficiente para adoçar a noite de todo mundo." (6)





Vinho quente e quentão


Originária do árido Cáucaso, na Ásia, a uva é uma das frutas mais antigas utilizadas na alimentação humana; sua origem vem de 6.000 a.C. As antigas civilizações elegeram deuses como os dadores do vinho: Dionísio (Grécia), Osíris (Egito) e Baco (Roma).


(Mosaico bizantino do deus Dionísio - foto: Mitologia Grega)


(Vinho no Egito Antigo - Fonte: Papo Fandangos)


Foi por intermédio dos Fenícios e dos Gregos que o vinho chegou à Europa. Com a ocupação romana, a cultura do vinho consolidou-se na Europa central. No Brasil o cultivo da videira começou em 1535, na Capitania de São Vicente trazida pelos portugueses, tendo grande impulso com a imigração italiana nos estados de São Paulo e da região sul.




"Foi o próprio Martin Afonso de Souza que trouxe as primeiras mudas de uvas aos trópicos. Em 1532, as primeiras videiras foram plantadas por ele na Capitania de São Vicente (região sudeste do País). (...) As tentativas de cultivo, contudo, não frutificaram, devido ao clima e solo das regiões sudeste e nordeste onde foram inicialmente introduzidas. (...) Com claro objetivo de proteger a sua produção de uvas, os portugueses acabaram inibindo completamente o cultivo e comercialização de vinho no País. A vitivinicultura brasileira permaneceu longos anos como uma atividade privada e doméstica." (7)

Mesmo com a chegada de milhares de imigrantes italianos no Brasil em 1875, o cultivo da uva para a produção de vinho ainda era comprometida, sendo interrompida pelo ataque de doenças que dizimaram boa parte das videiras plantadas. "A década de 80 representa uma virada na produção de vinho no Brasil. É a partir deste período que começa a ocorrer a reconversão de vinhedos (troca do sistema latada por espaldeira), passando ao cultivo de variedades européias da espécie Vitis vinifera – base para a elaboração de vinhos de alta qualidade. É nesta época que começa uma efetiva profissionalização do plantio e das técnicas enológicas nas vinícolas." (8)


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Fontes:
(1) "Arroz doce" (Saludaes.pt)

(2) "Milho" (Planetaeducacao.com.br)

(3) "Doces típicos" (Vidasimples.abril.com.br)

(4) "Maçã do amor" (Revistamirabilia.com)

(5) "Amendoim" (Nippobrasil.com.br)


(6) "Piranguinho" (G1.globo.com/economia/agronegocios)

(7) "Vinho" (Vinhosdobrasil.com.br)

(8) "Vinho" (Vinhosdobrasil.com.br)

24 de Junho - São João

São João Batista foi um pregador judeu que viveu durante o século I. Batizou muitos judeus, inclusive Jesus. Sua imagem mais conhecida geralmente é representada como um menino segurando um carneiro, que faz alusão à chegada do cordeiro de Deus. São João é chamado "Batista" pela importância que dava ao batismo, "um ritual de purificação corporal onde a imersão na água simbolizava a mudança interior de vida. E de Precursor porque iniciou sua pregação antes de Jesus, mas anunciando sua chegada." (1)


(Imagem de São João Batista - Fonte: Internet)


A Festa Junina comemorada no Brasil traz consigo uma forte influência européia devido à nossa colonização; neste caso apresenta, mais especificamente, uma forte interferência da mitologia cristã. Essa, por sua vez, adaptou-se às crenças mais antigas (Pré-cristãs), trazendo consigo uma série de referências culturais dos povos do hemisfério Norte. É interessante observar que há variações quanto às características dos personagens do folclore e suas lendas, que diferem de acordo com a região (o ambiente, o clima, a geografia) e o tempo, tomando corpos que se moldam ao ambiente e ao modo de viver de cada povo.


("Kupala", de Wojciech Gerson, 1897)


Por exemplo, na Ucrânia Pré-Cristã, as pessoas da aldeia reuniam-se em volta da fogueira para celebrar o solstício de verão em uma festa pagã onde honrava-se a deusa Kupala. Era um dia sagrado no qual se festejava os dois elementos mais importantes para os povos eslavos: o fogo e a água. Acreditava-se que Kupala era a deusa polonesa do Amor e da boa Colheita e Kupalo, sua forma masculina. Com o advento do cristianismo na Ucrânia, em 988, a figura de Kupalo foi associada à imagem de São João Batista. Coincidentemente, assim como a Iara do folclore brasileiro, a deusa Kupala também é conhecida como Mãe D'Água, sendo associada às árvores, ervas e flores.


("On the Night of Ivan Kupala", de Boris Olshansky, 1995)



Fonte:
(1) "São João Batista" (Recantodasletras.com.br)

A origem da Festa Junina

A comemoração junina tal qual conhecemos atualmente tem sua origem no Egito Antigo. Conhecidas como Festa da Colheita tinham como principal objetivo celebrar o início da colheita, cultuando os deuses do sol e da fertilidade.

A concepção dessa comemoração continuou até a Idade Média, sendo comemorada no dia 25 de dezembro (calendário juliano), e celebrava-se o solstício de verão (a fertilidade da terra e as boas colheitas). Era, portanto, uma festa tradicionalmente pagã celebrada por gentios, acepção católica que significa: "1 - Quem segue o paganismo; 2 - Quê ou o que não é civilizado; 3- S. m. Pop. Grande porção de gente; (Dicionário Completo da Língua Portuguesa Folha da Tarde)". (1)


(, o Deus egípcio do Sol, representado na sua forma antropozoomórfica,
com corpo humano e a cabeça de um falcão coroado pelo disco solar.
Ao lado, Lughnasadh, o Deus céltico do Sol - Fonte: Internet)


Com o domínio da Igreja Católica, a Festa da Colheita foi cristianizada e rebatizada com o nome de "Festa de São João", passando-se então a festejar a imagem de São João Batista. Pregador judeu, São João viveu durante o século I. Além disso foi um profeta considerado pelos cristãos como o "precursor de Messias". Quem com ele confessava seus pecados era lavado no rio Jordão por São João Batista, na cerimônia do batismo.


(Estandarte de São João Batista, em comemoração à festa de São João Batista,
em São João do Sabugi, RN - Foto: João Quintino)


As Festas de São João ainda são comemoradas em alguns países católicos da Europa (como França, Portugal e Irlanda) e também em alguns países nórdicos e do Leste europeu. “Uma das primeiras festas, meio populares, meio de igreja de que nos falam as crônicas coloniais do Brasil é a de São João já com fogueiras e danças. Pois as funções deste popularíssimo santo são afrodisíacas; e ao seu culto se ligam até praticas e cantigas sensuais. É o santo casamenteiro por excelência. (...) As sortes que se fazem na noite ou na madrugada de São João, festejado a foguetes, busca-pés e vivas, visam no Brasil, como em Portugal, a união dos sexos, o casamento, o amor que se deseja e não se encontrou ainda. No Brasil faz-se a sorte da clara de ovo dentro do copo de água; a da espiga de milho que se deixa debaixo do travesseiro, para ver em sonho quem vem comê-la; a da faca que de noite se enterra até o cabo na bananeira para de manhã cedo decifrar-se sofregamente a mancha ou a nódoa na lâmina; a da bacia de água, a das agulhas, a do bochecho. Outros interesses de amor encontram proteção em Santo Antônio. Por exemplo, as afeições perdidas. Os noivos, maridos ou amantes desaparecidos. Os amores frios ou mortos. É um dos santos que mais encontramos associados às práticas de feitiçaria afrodisíaca no Brasil. É a imagem desse santo que freqüentemente se pendura de cabeça para baixo dentro da cacimba ou do poço para que atenda às promessas o mais breve possível. Os mais impacientes colocam-na dentro de urinóis velhos. São Gonçalo do Amarante presta-se a sem cerimônias ainda maiores. Ao seu culto é que se acham ligadas as práticas mais livres e sensuais. Atribuem-lhe a especialidade de arrumar marido ou amante para as velhas, como São Pedro a de casar as viúvas. Mas quase todos os amorosos recorrem a São Gonçalo”. (2)

As festas em comemoração a São João também são conhecidas como "joaninas". Segundo Frei Vicente do Salvador, um dos primeiros brasileiros a escrever a história de sua terra, já no ano de 1603 os índios acudiam a todos os festejos portugueses, em especial os de São João, por conta das fogueiras e capelas. Durante os festejos de São João (24 de Junho) são celebradas também as figuras de Santo Antônio (13 de Junho) e São Pedro (29 de Junho).


Os elementos da Festa Junina

A fogueira

(São 3 os formatos das fogueiras da Festa Junina: a primeira, quadrada,
em comemoração a Santo Antônio; a segunda, piramidal, celebra São Pedro;
a última, cônica, festeja São João - ilustração: O Globo)


O uso da fogueira muito provavelmente se deve em função das baixas temperaturas durante os últimos meses do ano em que se comemorava o solstício de verão. Atualmente, segundo a concepção católica que se fundou sobre as bases dessa celebração, a fogueira significa o anúncio do nascimento de João Batista, primo de Jesus, à Virgem Maria. "Como era noite e Isabel morava em uma colina, esta foi a forma encontrada para o aviso. Por este motivo, nas noites de junho são montadas fogueiras como forma de celebração. (...). No sertão, o batismo de João também é lembrado com banhos à meia-noite no rio mais próximo." (3)


Os balões e bandeiras

Este costume foi trazido pelos portugueses para o Brasil durante a colonização. Segundo a tradição popular - já sob influência católica - os fogos de artifício servem para despertar São João Batista. Em Portugal, pequenos papéis são atados no balão com desejos e pedidos. Os balões serviam para avisar que a festa iria começar e eram soltos de cinco a sete balões para se identificar o início da festa.


(Foto: Internet)


O mastro de São João

O levantamento do mastro de São João se dá no anoitecer da véspera do dia 24 de Junho. Carrega uma bandeira que pode ter dois formatos, em triângulo com a imagem dos três santos, São João, Santo Antônio e São Pedro; ou em forma de caixa, com apenas a figura de São João Batista. A bandeira é colocada no topo do mastro.


(Mastro com a figura de São João - Foto: autor desconhecido)


"O responsável pelo mastro, que é chamado de 'capitão' deve, juntamente com o 'alferes da bandeira', responsável pela mesma, sair da véspera do dia em direção ao local onde será levantado o mastro. Segundo a tradição, a bandeira deve ser colocada por uma criança que lembre as feições do santo. O levantamento é acompanhado pelos devotos e por um padre que realiza as orações e benze o mastro. Uma outra tradição muito comum é a lavagem do santo, que é feita por seu padrinho, um fiel que está pagando por alguma graça alcançada." (4)


A Quadrilha


("Dos à Dos - Accidents in Quadrille Dancing", por George Cruikshank, 1817 - Fonte: Wikipedia)


A quadrilha é de origem inglesa, mas teve seu apogeu na França, no século XVIII, recebendo o nome de Neitherse. Era uma dança de salão praticada pela aristocracia e burguesia. Foi introduzida no Brasil durante o período regencial (por volta de 1831).


(Uma das maiores comemorações da Festa Junina,
Campina Grande, PB - Foto: autor desconhecido)


"Na época da Regência a quadrilha era enorme sucesso no Rio de Janeiro, trazida por mestres de orquestras que tocavam músicas de Musard e Tolbecque, os 'pais' das quadrilhas. Foi adotada pelos compositores nacionais que lhe deram um 'sotaque' brasileiro. Assim disseminou-se por todo o Brasil e a partir dela apareceram muitas variações no interior do país, como a 'quadrilha caipira' no interior paulista, o 'baile sifilito', na Bahia e em Goiás, a 'saruê' (que dizem ser corruptela de soirée) do Brasil central e a 'mana-chica' (Pinho, 1942; Cascudo, 1969; Almeida, s/d). Atualmente só é executada nas festas juninas, das quais se tornou a música símbolo (Almeida, s/d)." (5)


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Fontes:
(1) "Gentio" (Wikipedia.org)

(2) FREIRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Ed Record, Rio de Janeiro, 1995.

(3) "Festa Junina" (Nordesteweb.com)

(4) Revista Santo do Dia

(5) "Festa Junina" (Aguaforte.com/antropologia)

13 de Junho - Santo Antônio

Santo Antônio (ou Santo António de Lisboa e internacionalmente conhecido como Santo Antônio de Pádua) foi um Doutor da igreja que viveu entre os séculos XII e XII (1191/1195). Seu nome de batismo era Fernando Bulhões y Taveira de Azevedo. 

Até os 25 anos, Santo Antônio foi cônego regular em Portugal, "quando um fato mudou a sua vida. Ao saber que cinco franciscanos tinham sido martirizados em Marrocos, como conseqüência da tentativa de evangelizar infiéis, Santo Antônio decidiu seguir-lhe os passos e ser um missionário. Foi então que entrou para a ordem dos frades franciscanos e logo foi enviado para trabalhar entre os muçulmanos de Marrocos. Porém, com problemas de saúde, foi obrigado a retornar para a Europa, permanecendo em um eremitério na Itália." (1) Isso porque a embarcação que o conduzia de volta para Portugal foi desviada por ventos fortes, aportando na Sicília, sul da Itália. A partir de então lecionou Teologia na região italiana e também na França. Em maio de 1233, um ano após sua morte, Santo Antônio foi canonizado pelo papa Gregório IX.


(Relicário de Santo Antônio - Fonte: Cozinha Afetiva)

Segundo católicos é considerado o "santo casamenteiro" e é representado com um menino (Jesus) em seus braços. Foi considerado um taumaturgo, ou seja, um santo milagroso com capacidades paranormais. Santo Antônio não concordava com casamentos arranjados, comuns em um período em que pessoas pertencentes a classes sociais diferentes não poderiam manter relações matrimoniais.


("Ogum", de F. Santos)


Santo Antônio, além de ser um dos santos católicos com mais seguidores em Portugal, também é bastante conhecido pelo povo brasileiro. No candomblé, Santo Antônio é representado por Ogum, o mais importante orixá africano. "Projetar o santo padroeiro a um orixá do candomblé foi estratégia necessária dos escravos africanos para adotar as práticas obrigatórias da religião dos seus dominadores e, ao mesmo tempo, manter a devoção às entidades do candomblé. Eles foram obrigados a se render à fé católica, sobretudo a Santo Antônio. A partir da astúcia dos escravos, nasceu a herança religiosa brasileira." (2)

Durante as comemorações do dia 13 de junho são comuns simpatias para o santo casamenteiro. No Brasil, algumas mulheres solteiras costumam colocar de cabeça para baixo a imagem de Santo Antônio, prometendo desvirá-lo apenas quando este lhe arranjar um namorado. Com o mesmo intuito, outra superstição comum é separar o santo do menino Jesus que este carrega.


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Fontes:
(1) "Santo Antônio" (Culturabrasil.pro.br)

(2) Blig.ig.com.br/jonlinesenac

Centro Nacional de Folclore - RJ

O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular localiza-se no Rio de Janeiro, ao lado do metrô Catete. Nele é possível encontrar um rico acervo cultural em espaços de exposição que concentram artesanatos populares, telas e outras obras de diversas regiões do Brasil.


("Roda Bumba", de Nhozim - Fonte: Internet)


Dentre eles, destaca-se a exposição permanente que conta com uma média de 1.400 objetos e que representa os diversos modos de vida do povo brasileiro. É organizada em cinco unidades temáticas: vida, técnica, religião, festa e arte. Sob o ponto de vista antropológico, em cada uma das salas, pode-se compreender um pouco mais sobre a identidade colorida e multifacetada de nosso povo, identificando de modo mais claro as influências culturais herdadas durante os séculos.


("Baianas de Candomblé", acrílica sobre tela de Ermelinda - Fonte: Internet)


Outro espaço interessante dentro da instituição é a Galeria Mestre Vitalino. O nome homenageia um dos ceramistas nordestinos mais conhecidos e traz exposições temáticas de curta duração, sempre focando assuntos de interesse contemporâneo. Até o final do mês de julho/2011 acontece dentro deste espaço a mostra "As muitas faces de Jorge", resgatando a religiosidade brasileira no Santo São Jorge da Capadócia. Logo na entrada é possível ouvir trechos de Cordéis sobre o santo guerreiro, escritos por autores consagrados, como Gonçalo Ferreira da Silva, atual presidente da ABLC (Academia Brasileira de Literatura de Cordel). Além disso, há um breve descritivo sobre a origem de São Jorge e alguns registros fotográficos que trazem à tona a emoção das festividades em comemoração ao dia de São Jorge.


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Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

Rua do Catete, 179 e 181, Catete - Rio de Janeiro, RJ
Telefone: (21) 2285-0441
Para mais informações acesse o site do CNFCP.

Folclore brasileiro



Segundo Guacira Waldeck, em "Brasis Revelados", "o movimento folclórico brasileiro se disseminou a partir de 1947, no contexto internacional de um mundo ainda sob o impacto da Segunda Guerra." Surgiu no Brasil, então, a Comissão Nacional de Folclore, instalada no Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, no Rio de Janeiro, e vinculada ao Ministério das Relações Exteriores.

Os primeiros estudos no Brasil voltaram-se primeiramente para a poesia popular. Os estudos e pesquisas eram conduzidos tendo como embasamento as correntes filosóficas e científicas européias.

Durante o Modernismo brasileiro, Renato Almeida (modernista e musicólogo baiano), sugeriu que se estudasse, não só a literatura, "mas também outros aspectos da vida social, materiais e concretos como as artesanias, as indumentárias, os instrumentos musicais, além das formas de execução, as coreografias, os componentes rituais, e ainda as considerações econômicas, políticas, históricas e geográficas. Percebe-se então que (...) no entendimento do folclore deve-se considerar 'o comportamento do grupo social onde existe e as formas que revestem o fato', conforme escreveu no seu 'A inteligência do folclore' (1974)." (1)


As lendas brasileiras



Boitatá

A palavra "boitatá" (do tupi, boia: cobra; atatá: fogo) é de origem indígena e é representada por uma cobra de fogo que protege as matas e os animais capaz de perseguir e matar aqueles que desrespeitam a natureza. Acredita-se que este mito seja um dos primeiros do folclore brasileiro e há registros de que a primeira versão da história foi relatada nos textos do padre José de Anchieta, que denominou com o termo tupi Mbaetatá ("coisa de fogo"). Em 1560 ele registrou: "Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo de fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza." (2)


(Ilustração: autor desconhecido - Fonte: Internet)


Em Santa Catarina, a figura aparece da seguinte maneira: um touro de "pata como a dos gigantes e com um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo". Entretanto, a versão que predominou foi a do Rio Grande do Sul. Nessa região, a lenda diz que houve um período de noite sem fim nas matas. Além da escuridão, houve uma enorme enchente causada por chuvas torrenciais. Assustados, os animais correram para um ponto mais elevado afim de se protegerem. A boiguaçu, uma cobra que vivia numa gruta escura, acorda com a inundação e, faminta, decide sair em busca de alimento, com a vantagem de ser o único bicho acostumado a enxergar na escuridão. Decide comer a parte que mais lhe apetecia, os olhos dos animais. E de tanto comê-los vai ficando toda luminosa, cheia de luz de todos esses olhos. O seu corpo transforma-se em ajuntadas pupilas rutilantes, bola de chamas, clarão vivo, boitatá, cobra de fogo.



Boto

Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na região amazônica. A crença nasceu quando uma moça encontrava um namorado nas festas de junho. Nas tradicionais noites juninas na Amazônia, o povo festeja o nascimento de Santo Antônio, São João e São Pedro. É comum fazer fogueiras e atirar foguetes, enquanto se dança quadrilhas e se desfruta as comidas típicas, ao som alegre de sanfonas.


(Foto: Redação/TV Tapajós - Fonte: Internet)


A lenda do Boto ou Uauiara (boto, em tupi), conta que, durante essas noites, enquanto as pessoas estão distraídas celebrando, o boto rosado aparece transformado em um bonito e elegante rapaz mas sempre usando um chapéu, porque sua transformação não é completa - suas narinas se encontram no topo de sua cabeça fazendo um buraco. Ele então conquista a primeira mulher bonita que encontra na festa e, logo após a conquista, leva as jovens para a beira de um rio e as engravida. Antes da madrugada chegar, ele mergulha nas águas do rio para transformar-se novamente em um boto. É graças a este fato que, durante as festividades de junho, quando aparece um rapaz usando chapéu, as pessoas lhe pedem para que ele o retire no intuito de se certificarem de que não é o boto que ali está. Ainda hoje, na região norte brasileira, quando as pessoas desejam justificar a geração de um filho fora do casamento, ou um filho do qual desconhece o pai, é comum ouvir que a criança é filha do boto.


Caipora (Curupira)

No folclore brasileiro, é representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça. Habitante das florestas, a Caipora reina sobre todos os animais e destrói os caçadores que não cumprem o acordo de caça feito com ele. Vive montado numa espécie de porco-do-mato e carrega uma vara. Seus pés voltados para trás serve para despistar os caçadores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos. Quem o via perdia totalmente o rumo, e não sabia mais achar o caminho de volta. É também chamado de Pai ou Mãe-do-Mato, Curupira e Caapora.



(Ilustração: autor desconhecido - Fonte: Internet)


Para os índios Guaranis ele era conhecido como o Demônio da Floresta. Aparentado do Curupira, o Caipora protege os animais da floresta. Os índios acreditavam que a Caipora temesse a claridade, por isso protegiam-se dele andando com tições acesos durante a noite. Uma carta do Padre Anchieta datada de 1560, dizia: "Aqui há certos demônios, a que os índios chamam Curupira, que os atacam muitas vezes no mato, dando-lhes açoites e ferindo-os bastante". (Entre o Tupis-Guaranis, existia uma outra variedade de Caipora, chamada Anhanga, um ser maligno que causava doenças ou matava os índios. Existem entidades semelhantes entre quase todos os indígenas das américas Latina e Central).


Lobisomem

Também conhecido como Licantropo (do grego lykos: lobo; anthrōpos: homem), este mito aparece em várias regiões do mundo e tem sua origem na mitologia grega. Diz o mito que um homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu a capacidade de transforma-se em lobo nas noites de lua cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos aqueles que encontra pela frente. Somente um tiro de bala de prata em seu coração seria capaz de matá-lo.


(Desenho de um Lobisomem, por Lucas Cranach, 1512 - Fonte: Wikipedia)


 No Brasil há algumas variações dessa lenda, de acordo com a região. "Uma versão diz que a sétima criança em uma seqüência de filhos do mesmo sexo tornar-se-á um lobisomem. Outra versão diz o mesmo de um menino nascido após uma sucessão de sete mulheres. Outra, ainda, diz que o oitavo filho se tornará a fera." (3). Em algumas regiões, o Lobisomem se transforma à meia noite de sexta-feira, em uma encruzilhada. Como o nome diz, é metade lobo, metade homem. Depois de transformado, o lobisomem sai à noite à procura de sangue. Em algumas localidades diz-se que eles têm preferência por bebês não batizados.


(Ilustração: autor desconhecido - Fonte: Internet)


Subjacente à lenda, fincada em suas seculares raízes, pode estar um raro distúrbio orgânico, ao qual os cientistas chamam hipertricose. A lenda do lobisomem difundiu-se rapidamente na Europa em decorrência dos casos dessa singular alteração genética. A hipertricose é conhecida por um crescimento desproporcional de pêlos em qualquer parte do corpo. Dessa forma, provalmente por causa da anomalia, os indivíduos com hipertricose saíam de suas casas com maior freqüência à noite, gerando a lenda do lobisomem.


Mãe-d'água

Os cronistas dos séculos XVI e XVII registraram a história inicialmente com um personagem masculino. Chamava-se Ipupiara (do tupi, Igpupiara ou Hypupiara: "monstro marinho"). Era uma espécie de "homem peixe", que devorava os pescadores da região e os levava para o fundo do rio.Já no século XVIII, Ipupiara vira a sedutora Iara. Também conhecida como Iara ou Uiara (do tupi y-îara: senhora das águas), a Mãe-D'água é uma sereia que possui o corpo metade mulher, metade peixe.


(Fonte e Chafariz da Mãe-D'água no centro histórico
de São Luis do Maranhão, MA - Foto: Rodolpho Oliveira - Fonte: Internet)


Segundo a lenda, Iara era a melhor índia guerreira de sua tribo. Com inveja dos elogios que recebia do pai, o pajé da aldeia, os irmãos de Iara decidiram matá-la. Durante a noite, enquanto Iara dormia, seus irmãos entraram em sua cabana. Iara foi salva por conta de sua audição aguçada, que acabou acordando antes e, para se defender, matou seus irmãos. Com medo de seu pai, Iara fugiu. Seu pai propôs uma busca implacável por Iara e, quando a encontraram, como punição Iara foi jogada no encontro do rio Negro com Solimões. Os peixes a trouxeram à superfície e à noite, a lua cheia transformou a índia em uma linda sereia, de longos cabelos e olhos verdes.



Corpo-seco

É uma espécie de assombração que fica assustando as pessoas nas estradas. Em vida, era um homem que foi muito malvado e só pensava em fazer coisas ruins, chegando a prejudicar e maltratar a própria mãe. Após sua morte, foi rejeitado pela terra e teve que viver como uma "alma penada".


(Ilustração: autor desconhecido - Fonte: Internet)


No interior de São Paulo há uma variante desta lenda. Por se alimentar de sangue humano, quando uma pessoa passa perto do corpo seco, este pula sobre ela e suga todo seu sangue (semelhante a um vampiro). Essa lenda é bastante difundida nos estados do Paraná, Amazonas, em alguns países africanos de língua portuguesa e na região Centro-Oeste, principalmente.


Pisadeira


A lenda diz que Pisadeira seria uma velha de chinelos que aparece nas madrugadas para pisar na barriga das pessoas, provocando a falta de ar. Dizem que costuma aparecer quando as pessoas vão dormir de estômago muito cheio.


(Ilustração: autor desconhecido - Fonte: Internet)


O jornalista e folclorista Cornélio Pires, importante etnógrafo da cultura e dialeto caipiras, escreveu em seu livro "Conversas ao pé do fogo", referindo-se à Pisadeira: "Esta é ua muié muito magra, que tem os dedos cumprido e seco cum cada unhão! Tem as perna curta, cabelo desgadeiado, quexo revirado pra riba e nari magro munto arcado; sombranceia cerrado e zóio aceso... Quando a gente caba de ciá e vai durmi logo, deitado de costa, ele desce do teiado e senta no peito da gente, arcano... arcano... a boca do estámo... Purisso nunca se deve dexá as criança durmi de costa." Provavelmente esta lenda estaria relacionada com o fato de que muitas pessoas têm sono conturbado e com pesadelos, quando vão dormir após uma refeição pesada.


Mula-sem-cabeça


A Mula-sem-cabeça é uma antiga lenda dos povos da Península Ibérica, que foi trazida para a América pelos espanhóis e portugueses. Esta história faz parte, também, do folclore mexicano (conhecida como "Malora") e argentino (com o nome de Mula Anima). Acredita-se que este mito tenha nascido no século XII, época em que as mulas serviam de transporte para os padres. No Brasil, a lenda disseminou-se por toda a região canavieira do Nordeste e em todo o interior do Sudeste.

A Mula-sem-cabeça, representa uma espécie de lobisomem feminino, que assombra povoados onde existam casas rodeando uma igreja. Após o romance entre uma fiel e um padre, como castigo, em todas as noites de quinta para sexta-feira, esta seria transformada num animal quadrúpede que galopa e salta sem parar, enquanto solta fogo pelas narinas. Simbolicamente a Mula-sem-cabeça queira, talvez, representar a libido. É um animal que aparece sem cabeça, ou seja, metaforicamente, queira simbolizar a ausência da razão e da própria consciência (o predomínio do instinto animal).


(Ilustração: autor desconhecido - Fonte: Internet)


A relação entre uma mulher (pecaminosa) que se atreveu a envolver-se com um padre (o representante de Deus na Terra), conecta-se à Idade Média, onde os homens tinham medo do poder de sedução feminino. Esses medos, que os levaram a abster-se de qualquer contato com o sexo oposto, geraram fantasias e a criação de assombrações, para incutir maior receio.


Mãe-de-ouro


Os relatos das primeiras histórias sobre a Mãe-de-Ouro ocorreram no auge da época do Ciclo do Ouro, no século XVIII, nas regiões auríferas brasileiras (Minas Gerais, Goiás e Bahia).


(Ilustração: Antonio Luis M. Costa - Fonte: Internet)


É provável que a lenda da Mãe-de-Ouro tenha nascido da fantasia dos solitários garimpeiros que, em busca da riqueza, construíram o Brasil central. A lenda corre no rio das Garças, que em outros tempos foi rico em pedras preciosas. O fogo-fátuo desprendido das ossadas dos animais mortos causava medo aos garimpeiros, ao mesmo tempo eram vistos como os pingos de luz de uma mulher que trazia as riquezas da região, escondidas em suas grutas e no leito dos seus rios. Representada por uma bola de fogo que indica os locais onde se encontra jazidas de ouro. Também aparece em alguns mitos como sendo uma mulher luminosa que voa pelos ares. Em alguns locais do Brasil, toma a forma de uma mulher bonita que habita cavernas e após atrair homens casados, os faz largar suas famílias.


Saci-Pererê

Talvez seja esse um dos mais conhecidos personagens do folclore brasileiro. Saci deriva do tupi (sa'sï, onomatopeia do pio do pássaro matinta-pereira). Os cronistas do Brasil colonial não o mencionam. Diz a crença popular que dentro de todo redemoinho de vento existe um Saci. "Ele não atravessa córregos nem riachos. Alguém perseguido por ele, deve jogar cordas com nós em sem caminho que ele vai parar para desatar os nós, deixando que a pessoa fuja. Diz a lenda que, se alguém jogar dentro do redemoinho um rosário de mato bento ou uma peneira, pode capturá-lo, e se conseguir sua carapuça, será recompensado com a realização de um desejo." (4)


(Ilustração: Antonio Luis M. Costa - Fonte: Internet)


O personagem parece ter nascido no século XIX ou final do XVIII, entre as tribos indígenas do sul do Brasil. Conhecido também como Matinta-pereira ou Maty, inicialmente o Saci era retratado como um curumim endiabrado, com duas pernas, cor parda, além de possuir um rabo típico. Com a influência da mitologia africana, o saci se transformou em um menino negro que perdeu sua perna lutando capoeira. Além disso, herdou o pito (uma espécie de cachimbo) e ganhou, da mitologia européia, um gorrinho vermelho.



Fontes:
(1) Folclore/Cultura Popular - Aspectos de sua história, Cáscia Frade, Campinas.

(2) Cartas, Informações, Fragmentos Históricos, etc. do Padre José de Anchieta, Rio de Janeiro, 1933.

(3) "Lobisomem" (Wikipedia)

(4) Folclore Brasileiro Ilustrado: Lenda do Saci Pererê.