A origem do Natal

A palavra "Natal" advém do latim (nātālis), derivada do verbo nāscor (nāsceris, nascer). "Christmas", por sua vez, provém do inglês, evoluído de Christes maesse (Christ’s mass, missa de Cristo). A tradição de celebrarmos o Natal em 25 de Dezembro e todo o simbolismo desta festividade remonta a milênios. Sua data é indefinida, porém há relatos históricos de que as comemorações antecedem de 2 a 4 mil anos o nascimento de Jesus. Durante a desintegração do Império Romano, muitos povos "bárbaros" que chegaram à Europa trouxeram consigo uma série de tradições que definiam a sua própria identidade religiosa.

Nesse mesmo período, a expansão do cristianismo foi marcada por uma série de adaptações, de modo que as divindades, festas e mitos das religiões - até então pagãs - foram incorporados ao universo cristão. (Convém lembrar que o termo bárbaro remete a uma sociedade vista como não civilizada. De origem grega - βάρβαρος bárbaro significa "não grego". Ou seja, esta era uma expressão para designar os povos "estrangeiros", ou seja, quem não era grego e cuja língua materna não era o idioma grego). Joseph Campbell, em entrevista ao jornalista norte-americano Bill Moyers publicada em "O Poder do Mito" (Editora Palas Athena, 1990) esclarece que "toda mitologia cresceu numa certa sociedade, num campo delimitado. Então, quando as mitologias se tornam muitas, entram em colisão e em relação, e se amalgamam, e assim surge uma outra mitologia, mais complexa. (...) A característica dos povos imperialistas é ver o seu deus local promovido a senhor de todo o universo. As demais divindades deixam de contar. E o meio de conseguir isso é aniquilar o deus ou deusa que estava aí antes."

Uma das origens do Natal é Zagmuk, um antigo festival na Mesopotâmia que simbolizava a passagem de um ano para outro, geralmente durava 12 dias. Segundo Morris Jastrow, um pesquisador de estudos relacionados às sociedades orientais declarou em 1896 para o Jornal Americano de Linguagem Semiótica e Literatura, que no início do mês de Nisan os babilônios celebravam o festival de Zagmuk com sacrifícios e oferendas. Passando pelas principais ruas da Babilônia eles carregavam Marduk, sua esposa e filho, entre outros deuses. 



(Marduk e seu dragão Mušḫuššu - clique para ampliar - Fonte: Wikipedia)


Devido ao solstício de inverno, a lenda dizia que o rei deveria morrer ao lado de Marduk, para ajudá-lo na batalha contra os monstros do caos (a escuridão). Entretanto, para poupar o rei, um criminoso era vestido com suas roupas e tratado com todos os privilégios do monarca para então ser morto e levar consigo todos os pecados do povo. Jany Canela, mestre em educação e graduada em História pela Universidade de São Paulo, comenta que "os povos antigos sempre realizaram festas de celebração em deferência aos marcos de transição da natureza, como as estações ou períodos representativos de mudanças importantes, entre eles o solstício (em dezembro) e o equinócio (em março).

Um ritual semelhante, conhecido como Sacae (versão latinizada do iraniano arcaico, Sakā), também era realizado pelos persas e babilônios. Sob os mesmos pilares da luta contra a escuridão, a versão também contava com escravos tomando lugar de seus mestres. Jany nos diz que nossa tradição de celebrar o Natal à meia-noite possivelmente remonta a estes rituais pagãos: "Por conta da relação luz/escuridão trazida pela simbologia do solstício, a teoria mais difundida sobre o Natal associa a data a esse período, em que alguns povos passavam a noite em vigília com tochas acesas para garantir que o sol nascesse e imperasse sobre a escuridão", diz a historiadora.


(Inscrição de um cavaleiro Pazyryk - povo nômade que viveu na Rússia siberiana -
durante o ritual Sacae, cerca de 300 a.C. - Fonte: The World of Ancient Art)


(Vestimenta dos guerreiros - Homens Dourados - encontrada às margens do Lago Issyk Kol, no Quirguistão, na Ásia Central. O traje era usado no ritual Sacae,
e data do século V a.C. - Fonte: The Oriental Caravan)


A Grécia antiga também incorporou os rituais estabelecidos pelos mesopotâmios ao celebrar a luta de Zeus contra o titã Cronos. O costume alcançou os romanos, que passaram a realizar a Saturnalia (em homenagem a Saturno). A festa iniciava em meados de Dezembro e decorria até o início de Janeiro. Mas outros cultos existiam também, como é o caso do deus Apolo, considerado como "Sol invicto" (Sol Invictus), ou ainda de Mitra, adorado como Deus-Sol. Este último, muito popular entre o exército romano, era celebrado nos dias 24 e 25 de Dezembro, data que, segundo a lenda, correspondia ao nascimento da divindade. Em 273, o Imperador Aureliano estabeleceu o dia do nascimento do Sol em 25 de Dezembro: Natalis Solis Invicti (do latim, "nascimento do Sol invencível"). Neste dia não havia trabalho nem aulas. Eram realizadas festas nas ruas e grandes jantares com amigos. As árvores eram ornamentadas com galhos de loureiros e iluminadas por muitas velas para espantar os maus espíritos da escuridão.


(O imperador Aureliano e sua coroa, moeda de bronze prateado,
por volta de 274 - Fonte: Wikipedia)


É somente durante o século IV, com a conversão do imperador Constantino ao catolicismo que o nascimento de Cristo começa a ser celebrado pelos cristãos (até aí a sua principal festa era a Páscoa) mas no dia 6 de Janeiro, com a Epifania. (Do verbo grego epiphaino: mostrar), a palavra epifania significa aparição, manifestação. A alteração das datas comemorativas foi realizada pelo Papa Gregório XIII (responsável pelo vigente calendário gregoriano). 



Presépio

Etimologicamente a palavra presépio provém do latim (praesepium; prae: à frente; saepes: fechado, cercado). Durante o século XVI foram introduzidos nas igrejas os primeiros presépios em escala reduzida. Seu surgimento foi motivado por representações plásticas e teatrais. A primeira, situa-se no final do século IV, surgida com Santa Helena, mãe do Imperador Constantino; da segunda, a teatral, os registros mais antigos que se tem conhecimento datam do ano de 1223, com Francisco de Assis. Ele teria reproduzido um "presépio vivo" com personagens e animais em sua igreja em Greccio, na Itália. Os personagens reais que realizaram a encenação eram habitantes da própria aldeia, tradição que disseminou-se rapidamente.


(Presépio natalino, costume católico em que se reúne pequenos personagens moldados
em massa e faz referência à mitologia cristã - Fonte: Internet)


Alguns anos depois, por volta de 1803, os habitantes de Provença começaram a reproduzir os personagens folclóricos do presépio em massa de modelar, conhecidos como santons. O livro "Le petit monde du santons de Provence" ("O pequeno mundo dos santinhos de Provença"), de Laurent  Giradou e publicado por Equinoxe em 2010 possui cerca de 130 páginas com registros da coleção de santos confeccionados por Gilbert Orsini, um dos mais conhecidos mestres artesãos).

(Curiosamente, termo bastante similar ao praesepium, Praesepe - como também é conhecido o Messier 44 - é um aglomerado estelar aberto localizado na constelação de Câncer, considerado um dos mais próximos aglomerados estelares. Por ser visível a olho nu, o M-44, também conhecido como o Aglomerado do Presépio é conhecido desde a Antiguidade).



Árvore

Na Idade Média, árvores enfeitadas faziam parte de todas as grandes festas – por exemplo, das festas da cumeeira (tradição adotada também no Brasil, durante o colonização européia). A primeira menção do uso de pinheiros na ornamentação das festas natalinas data de documentos de 1419. Nas vésperas do solstício de inverno, os povos pagãos da região dos países bálticos (nordeste europeu) cortavam pinheiros e os levavam para seus lares, enfeitando-os para que, depois da queda das folhas no inverno, os espíritos das árvores retornassem. Entre os egípcios, o cedro se associava a Osíris. Os gregos ligavam o loureiro a Apolo, o abeto a Átis, a azinheira a Zeus. Já os germânicos colocavam presente para as crianças sob o carvalho sagrado de Odin.


(Winfried, rebatizado São Bonifácio pelo papa Gregório II, venerado pela
Alemanha católica, da qual é patrono - Fonte: Heróis Medievais)


A tradição de adornar a árvore durante o solstício de inverno foi mantida ao longos dos séculos na Europa. A árvore de Natal tal qual a conhecemos atualmente teve origem na Alemanha, por volta do século XVI. Na tentativa de acabar com a crença dos povos pagãos, no início do século XVIII, o monge beneditino São Bonifácio, cortou um pinheiro sagrado que os locais adoravam no alto de um monte. Sem sucesso na erradicação da crença, São Bonifácio decidiu então associar o formato triangular do pinheiro à Santíssima Trindade e suas folhas resistentes e perenes à eternidade de Jesus. 


("Adão e Eva", óleo sobre tela de Lucas Cranach, 1526 -
clique para ampliar - Fonte: Wikipedia)


A etnóloga Christel Köhle-Hetzinger, da Universidade de Jena, na Alemanha, conhece uma série de histórias que tentam explicar a origem da tradição medieval: "Sabe-se também que árvores verdes eram postas nas igrejas na época de Natal. Era, sem dúvida, uma alusão à árvore do paraíso, que desempenha um papel próprio em toda a liturgia cristã. Ou seja, uma árvore cristã da vida. Como na história de Adão e Eva." O teólogo Fernando Altermeyer, da PUC-SP, ratifica: "No antigo calendário cristão, o dia 24 de dezembro era dedicado a Adão e Eva, cuja história costumava ser reencenada nas igrejas. O paraíso era representado plasticamente por uma árvore carregada de frutos, colocada no meio da cena teatral."



Guirlanda

Na simbologia das formas, o círculo é associado ao ponto e ambos podem ser considerados como sinais supremos de perfeição, união e plenitude, representando o céu e a ordem cósmica na astrologia. Símbolo do movimento, como a roda e as habitações dos povos nômades (que dispunham os seus acampamentos também em forma de circulo protetor), o círculo também representa os movimentos cíclicos dos planetas nos horóscopos e no Zodíaco, à volta do Sol.



(O elemento circular presente na Roda da Fortuna. A imagem acima é parte do Codex Buranus, uma ópera do século XX, de Carl Orff, que utilizava a métrica dos hinos católicos e melodias do canto Gregoriano - Fonte: Hecatus)



(Tradicional guirlanda de Natal - Fonte: Internet)


Consideradas simbolicamente como "adornos de chamamento", as guirlandas eram muito utilizadas nos solstícios de inverno como convite para que os Deuses viessem a morar em nossas casas durante o inverno, fazendo companhia e nos abençoando o lugar. Seu permaneceu durante a Roma Antiga: oferecer um ramo de planta significava um voto à saúde, proporcionando o costume de enrolar os ramos em uma coroa. 


 (Arbustos utilizados para a confecção das guirlandas natalinas.
Da esquerda para a direita: azevinho, visco branco e hera - Fonte: Internet)


(A Deusa Frigga e suas quatro escravas: 
Fulla, Gna, Hiln e Eir - Fonte: Internet)


O mais conhecido dos três arbustos é o azevinho; ele é composto de folhas verdes e frutos em tom vermelho vivo, que simbolicamente representam o aspecto masculino das divindades celtas e dizem ter o poder de repelir o mal. Já o visco branco têm folhas mais arredondadas e de textura macia. Os frutos brancos estão ligados ao aspecto feminino das divindades celtas, representando a imortalidade e fertilidade. Todos estes arbustos são ditos protetores, pois acreditavam que traziam boa sorte e proteção, e eram colocados nas portas para afastar os maus espíritos e o azar. (As bolas nas árvores de natal também simbolizavam o azevinho e o visco, já que a bola vermelha representa o fruto do azevinho e a bola branca o fruto do visco). Na mitologia escandinava, o azevinho representava Thor e Freya enquanto o visco representava a deusa  do amor, Frigga (imagem acima). É daí que advém o mito de que beijar a pessoa que se ama debaixo de uma guirlanda natalina trará um bom futuro. 



Sinos e estrela

Sino, do latim signum (sinal), tem sua origem na China, por volta de 3000 a.C. Por sua criação anteceder a religião católica o sino, conhecido até então como um objeto pagão, foi adotado por monges missionários durante o século VI d.C., que o introduziram na Europa Central. Sua finalidade era a anunciação do Evangelho e o chamado do povo para a participação em Assembléias. Segundo Voltaire Schilling, ex-diretor do Memorial do Rio Grande do Sul e que leciona História há mais de 30 anos, conta que "o dia-a-dia de toda a cristandade era regulado pelo bimbalho forte que saindo do alto da torre da igreja inundava tudo ao redor, invadindo os silêncios dos campos vizinhos e empinando até as orelhas dos bichos. O sino foi durante muito tempo o grito do medievo. Era o que fazia soar os alarmes, os socorros, lamentava as pestes e acompanhava pesaroso os enterros. Registrava também as alegrias da comunidade, o dia do padroeiro, o nascimento do príncipe, a boda da princesa ou uma festa do senhorio." (1)

A partir do ano de 1600 a fabricação de sinos na Europa era considerada uma arte. Foi então introduzida a técnica de produzir certos timbres, notas e melodias. Foi a partir dessa data que, pela primeira vez, tornou-se possível fazer soar vários sinos simultaneamente, sem que fosse sentido uma dissonância musical. "É importante dizer que o som de um bom sino é captado a quilômetros de distância de sua emissão. Por isso as guerras eram o inimigo número um deles. Com o desenvolvimento dos canhões no século XV, os campanários das igrejas eram as primeiras instalações a caírem nas mãos dos invasores e eram consideradas presas de guerra. Não só para evitar a transmissão de sinais, mas também para que seus sinos fossem transformados em canhões." (2)


(Gaspar, Baltasar e Melchior em mosaico datado do século VI,
Basílica de Santo Apolinário Novo, em Ravenna, Itália - clique para ampliar)


Já a simbologia da estrela na celebração natalina advém da mitologia de que teria servido de "guia celeste" aos Reis Magos (Gaspar, Baltasar e Mechior), apontando-lhes para o local do nascimento de Jesus. No ano 5 a.C. documentos astronômicos indicam que teria ocorrido uma grande explosão estrelar, resultando numa grande luminosidade que permaneceu no céu por inúmeros dias. Um fato que pode ter originado a imagem da estrela de Belém, já que Jesus nasceu entre os anos 8 e 4 antes da chamada era cristã. Em 1606, o astrônomo e matemático alemão Johannes Kleper afirmou que a estrela era uma rara conjunção da Terra com os planetas Júpiter e Saturno, transitando por Sol. Esta conjugação se apresenta aos olhos do observador terrestre como uma estrela muito brilhante. 

É conhecido que os fenômenos naturais como por exemplo a chuva, aurora boreal (nos países nórdicos) e relâmpagos eram tidos como sinais divinos pelos povos pagãos. A respeito da simbologia das manifestações da natureza, Jacques-Noël Pérès, professor de patrística e de história antiga da Igreja da Faculdade de Teologia Protestante de Paris, em seu artigo publicado na revista História Viva #35 (Dezembro, 2011), comenta que os cometas eram tidos como mau presságio, "sinal antecipador de catástrofes naturais e epidemias devastadoras, como a fome ou a peste, e quando não pura e simplesmente o fim do mundo. Eles eram acompanhados por reações coletivas de pânico e temor, mas também por conversões em massa."



Papai Noel

Em entrevista a um programa brasileiro a atriz e modelo Elke Maravilha contou brevemente a origem mitológica do Papai Noel (vídeo abaixo).



Há mais de 15 mil anos antes de Cristo, o inverno mais frio e escuro dos vikings se dava no dia 24 de Dezembro, o dia onde o sol está mais longe da Terra. Por conta das baixas temperaturas, os povos da região tinham seis meses pra armazenar um estoque relevante de comida. A localização das casas, muito bem planejadas, encontravam-se próximas as fontes de água. Eram componentes da culinária escandinava: castanhas, nozes e peixes de carne dura. O alimento podia ser desidratado (como o bacalhau), defumado, ou ainda, azedado (como as conservas); tudo sempre bem salgado para melhor conservar, pois não havia modo de refrigerar o alimento. (Outro ponto essencial era o estoque de lenha, uma vez que o fogo servia tanto para iluminar e aquecer, quanto para o preparo de alimentos).

A temperatura chegava até -50ºC. "Era o tempo em que as trevas começavam a vencer a luz, a vida perder para a morte, a sabedoria perder para a ignorância e a verdade perder para a mentira", diz Elke Maravilha durante a entrevista. Os xamans das aldeias vikings se reuniam sob o pinheiro que, apesar das baixas temperaturas, continuava verde e vivo. Acendendo velas sobre as árvores eram oferecidos pedidos em seus rituais, para que a vida vencesse a morte, que a luz vencesse as trevas e a sabedoria vencesse a ignorância. "Como o caçador é anterior ao guerreiro, o instinto da luta é uma consequência da caça. Todos os velhos conquistadores foram caçadores excelentes. (...) Dou ao caçador o ímpeto primário de matar, o exercício do ataque, o sabor primeiro da vitória compensadora. O guerreiro, matador de homens, nasceu do caçador, vencedor de animais." (3)

O xaman da aldeia escolhia um rapaz que estava em rito da passagem de adolescente para a idade adulta e mandava caçar um urso branco, símbolo da força viking. Este levava seu trenó e suas renas para a caça ao urso e, se retornava, como mandava o ritual, trajava a pele do urso (com o sangue para fora e os pêlos brancos na parte interior, aquecendo-lhe o corpo).


(O bispo São Nicolau - padroeiro de países como Rússia, Grécia e Noruega -
do qual advém a figura mitológica do Papai Noel - Fonte: Wikipedia)


A mitologia acerca da figura do Papai Noel nasceu por volta de 280 d.C., após a conversão dos povos pagãos à religião católica. Nascido em Patara, na Ásia Menor, o bispo Nicolau - filho de pais ricos com profunda vida de oração - foi santificado após várias lendas e milagres - e sua fama de generosidade com as crianças - terem sido a ele atribuídos. A uma delas lhe deve o mito de distribuidor de presentes. No século XI, o roubo de seus ossos promoveram sua fama por toda a Europa e por volta do século XIII a comemoração do seu dia passou para o dia 6 de Dezembro. Sua figura foi então relacionada com as crianças, para as quais ele deixava presentes, vestido de bispo e montado em um burro.


(Caracterizações do personagem Papai Noel em períodos distintos - clique para ampliar:
1. Christ as Sol Invictus - Cristo como Sol Invicto, mosaico datado do século III, na Basílica de São Pedro, Vaticano, que representa Cristo como o Deus Sol, ou Sol Invicto;
2. Ilustração de Thomas Nast, que ajudou a modernizar a imagem do Papai Noel, 1881;
3. Ilustração publicitária de Haddon Sundblom, que consolidou a figura folclórica do Papai Noel; 4. Sinterklaas, ou São Nicolau, padroeiro da Noruega, Rússia e Grécia)


Ao longo do século XIX, a imagem de Papai Noel (Santa Claus) foi representado de diferentes formas, com diferentes tamanhos, vestimentas e expressões. Pouco a pouco foi adquirindo estatura, barriga, mandíbula, barba e bigode branco, aparece no Pólo Norte, rodeado de complementos como o abeto e o visco. Com a chegada da cromolitografia (litografia em cores), em 1837, suas roupas foram coloridas com um vermelho brilhante. Em 1931, a Coca-Cola encomenda ao artista Haddon Sundblom a remodelação da figura do Papai Noel, que o torna ainda mais próximo e verossímil. Sundblom se inspira em seu amigo, Lou Prentice, um vendedor aposentado. A campanha de Natal constitui um grande sucesso e a partir de então, a imagem do Papai Noel se consolidou tal qual a conhecemos atualmente.


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Fontes:
(1) "Sino" (www.educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos)

(2) "Sino" (www.novaimprensa.com.br)

(3) CASCUDO, Luís da Câmara. Civilização e Cultura, Editora Global, São Paulo, 2004.

Série (En)cantando o Brasil (Florentina de Jesus - Tiririca)


"Florentina, Florentina / Florentina de Jesus / Não sei se tu me amas / Pra que tu me seduz...". Os conhecidos versos de "Florentina", de Tiririca, talvez tenham alguma referência histórica, que remonta ao período da Idade Média. É provável que a reputação das mulheres florentinas tenha se mantido viva no inconsciente nordestino através da Literatura de Cordel, trazido para o Brasil durante o período da colonização, tornando-se tema da jocosa música do humorista cearense.

(Clique abaixo para ouvir a música "Florentina", do humorista cearense Tiririca).





Durante o Medievo, a Itália e seus tecidos se destacavam dos demais países da Europa. O comércio com o Oriente trazia todo tipo de novidades, texturas e cores para os países europeus. "Ligada por estrada à França, onde tinha importantes mercados, Florença não dispunha de porto de mar e sua prosperidade de deveu mais às suas indústrias que ao comércio. Os seus mercadores e fabricantes de tecidos, bem como outros membros de corporações, tomaram o controle do governo a partir de 1282 e preservaram a sua constituição 'republicana' mesmo depois de o verdadeiro poder ter passado para as mãos de uma oligarquia, e posteriormente, para as da família Médici (1434)." (1)


(Trajes usados pela sociedade italiana durante o século XI - clique para ampliar.
Fonte: "The Costumes of All Nations", de Albert Kretschmer e
Carl Rohrbach. Sotheran, 1882 - Fonte: Period Paper)


Com a invenção do tear horizontal e da roca de fiar em 1290, houve um aumento da qualidade dos tecidos que eram confeccionados aumentando a produção cerca de dez vezes. Uma das mais interessantes referências visuais que registra o progresso técnico da Idade Média é o Codex Manesse, um manuscrito escrito e pintado entre 1305 e 1340 em Zurique por Johannes Hadlaub. Reunindo inúmeras canções de amor medievais, o Codex Manesse foi dedicado ao rei Venceslau II. (Clique aqui e leia mais sobre o Codex Manesse).


(Codex Manesse, manuscrito alemão da Idade Média - clique para ampliar - 


Desde o início do século XIV havia uma grande preocupação em dar forma à porção central do corpo. (Neste período, homens e mulheres usavam faixas apertadas em volta do corpo como forma de delineá-lo). As roupas medievais eram compostas por várias peças sobrepostas e de diferentes materiais, de acordo com a finalidade que possuíam. Como roupa interior, as mulheres usavam faixas de linho, não tingidas, sobre os seios. (Uma peça comum do período medieval é o espartilho, também conhecido como corset. Representada tipicamente como parte do traje da taberneira medieval, o seu uso foi relatado já no século XII, como roupa interior feminina. O seu uso externo está associado à cortesã do século XV e, a partir do século XVI, pelas senhoras da nobreza). R. W. Lewis em "Dante - Breve Biografia" (Objetiva, 2002), cita o cardeal Latino Malabranca, o erudito e talentoso sobrinho do papa Nicolau III, autor do hino Dies Iræ ("Dia da Ira") como um "severo moralista que criticou as mulheres florentinas por suas roupas extravagantes." 


(Tapeçaria de Bayeux - clique para ampliar. Confeccionada em bordado no século XII, a obra foi feita na Inglaterra para celebrar os eventos da Batalha de Hastings. Conta-se que o tapete tenha sido bordado pela Rainha Matilde de Flandres e suas aias)


Durante a primeira metade do século IX (mais precisamente dentre o ano 1000 a 1300 d.C.), os bordados europeus eram de grande relevância na ornamentação das vestimentas. (A importância do bordado como uma técnica decorativa foi assegurada pela raridade e alto custo das sedas). A grande maioria das vestimentas européias eram confeccionadas em lã e linho e tornaram-se símbolos de grande poder sendo ornamentadas com pedrarias, peles e botões. A é de origem mesopotâmica. A região foi pioneira na domesticação de carneiros e ovelhas, essenciais para as tramas das lãs. Já o linho é um dos tecidos considerados mais nobres na história da moda, sendo difundido pela Europa pelos comerciantes fenícios, que o levaram para a Irlanda, a Inglaterra e Bretanha. Entretanto foram os romanos que iniciaram o cultivo no norte europeu.


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Fonte:
(1) MATTHEW, Donald. As grandes civilizações do passado - Europa Medieval. Folio, Barcelona, 2006.