Comidas típicas da Festa Junina


A comemoração junina surgiu no período pré-gregoriano, com a celebração do solstício de verão, conhecida como Festa da Colheita. Com o domínio da religião Católica, a festa foi rebatizada com o nome de Festa de São João, a popular Festa JuninaSegundo Gilberto Freyre, "o açúcar refinou o paladar brasileiro, dando-lhe densidade histórica por intermédio dos doces e bolos."


(A tradicional culinária brasileira durante as comemorações de Festa Junina - Foto: Link Atual)


Trazida pelos portugueses durante o período de colonização e influenciada por elementos culturais de outras regiões da Europa (principalmente Espanha e França), as comidas típicas da Festa Junina foram se enriquecendo com o decorrer dos anos, ganhando características peculiares com as culturais locais das regiões brasileiras.


Arroz doce

Há registros do preparo de arroz cozido em leite com açúcar desde o século XV a.C. Anteriormente aos portugueses, os árabes já conheciam o arroz-doce (a mistura de arroz, leite e açúcar) e o arroz-de-leite (composto por arroz, leite, açúcar e gemas de ovos). Foram os árabes que difundiram essas misturas pela península Ibérica, sul da França e Itália.




A partir de então a fama do arroz doce se espalhou por toda a Europa. O próprio étimo "arroz" provém do árabe (ar-ruzz). "A cor dourada que o melaço lhe conferia passou ao branco característico, já no século XIII, quando se começou a utilizar açúcar refinado. O século XVIII marca o momento do baptismo desta sobremesa, que revela todo o seu encanto em todos os livros de receitas europeus." (1)


(Frontispício do Colóquio dos Simples,
de Garcia de Orta - Goa, 1563 - Fonte: Wikipedia)


Em 1563, o médico judeu português Garcia da Orta fez o primeiro registro em língua portuguesa de uma receita cujos ingredientes principais eram o arroz e o leite. Orta citava o arroz-de-leite, tradicional em seu país, Portugal. Entretanto, este arroz-de-leite não tinha adição de açúcar e, por isso, não era considerado uma sobremesa. (Era, na realidade, uma espécie de acompanhamento de carnes e peixes). No Brasil, com o cultivo da cana-de-açúcar, a mão de obra escrava abundante e a tradição doceira dos portugueses, as iguarias aqui produzidas enriqueciam-se, ganhavam sabores tropicais reinventadas pelas mãos de habilidosas cozinheiras.


Milho verde e bolo de fubá

Fubá (do quimbundo, fuba: farinha) é a farinha fina feita com milho ou arroz moído. Anteriormente ao consumo em terras brasileiras, o milho já era consumido pelos povos maias, astecas e incas; povos estes, que ficaram conhecidos historicamente como "civilizações do milho", por conta do consumo relevante deste e também da relação mística que tinham para com o cereal. Também no século IX, o milho já era cultivado em algumas regiões da África sub-saariana. Talvez por esse motivo é possível compreender o consumo de fubá e derivados entre os escravos no Brasil.




Há registros do consumo relevante de milho durante a Idade Média. Naquela época era comum o consumo de sopas, pois além deste ser um alimento quente (o que auxiliava na manutenção da temperatura, principalmente nos períodos de inverno), também era um prato simples em seu modo de preparo. Geralmente cozinhava-se uma carne (que era conservada salgada), em água fervente, junto a algum cereal pilado para ser transformado em farinha (muito comumente o milho), além de legumes.


(Alimentação na Idade Média - ilustração: autor desconhecido)


"Há menções ao uso e consumo do milho miúdo (milium) e do milhete (panicum) entre os etruscos, célebres e desenvolvidos ancestrais dos romanos. Não se tratava, evidentemente, do milho verde encontrado em terras americanas, mas é importante lembrar esse registro tão antigo sobre parentes próximos do Zea Mays (nome científico). As menções ao milhete e ao milho miúdo na história européia (...) estendem-se também ao Medievo. Nesse outro período verifica-se que o consumo desses cereais constituiu um adendo alimentar expressivo para alguns períodos do ano, particularmente para as épocas de crise." (2)

A cultura do milho foi introduzida em Portugal em meados do século XVI no Baixo Mondego, na zona de Coimbra. No Brasil, os índios (principalmente os guaranis), tinham o cereal como o principal ingrediente de sua dieta. Com a chegada dos portugueses, o consumo aumentou e novos produtos à base de milho foram incorporados aos hábitos alimentares dos brasileiros. "Só há relato do uso de milho nos doces no começo do século 17. Embora o grão já fosse conhecido pelos índios, portugueses e escravos, não era então muito valorizado na alimentação e servia mais como ração dos animais. Isso até as portuguesas o incorporarem às receitas. O milho passou a entrar na composição de bolos e pudins, que saíam das mãos delas; papas, angus e mungunzás eram obra das mãos das negras." (3)


Maçã do amor

A evolução da macieira iniciou-se há milhões de anos, tendo como centro de origem a região entre o Cáucaso e o leste da China. A maçã foi uma importante fonte alimentícia em todos os climas frios. À exceção das frutas cítricas, a maçã pode ser conservada durante mais tempo, preservando grande parte de seu valor nutritivo.



("A Virgem e o menino", de Lucas Cranach - 1525-1530,
Eremitério de São Petersburgo, Rússia)


Durante a Baixa Idade Média (a partir do século XIII) a maçã passou a ter um sentido ambíguo: além de representar simbolicamente a transgressão de Adão e Eva ao Éden, a inserção da maçã nas mãos do menino Jesus e em Maria fazia alusão à absolvição do pecado e à vida eterna. "A maçã também está ligada ao simbolismo da árvore, eixo do mundo, associada à cruz e a Cristo. Como se acreditava que o conhecimento vinha do alto, uma metáfora era a arbor inversa, cujas raízes estão no céu, sendo Cristo o mais belo fruto enviado pelo céu (Deus) à terra (Maria)." (4)


(Foto: Grand Chefs)


A Maçã do Amor foi trazida para o Brasil pela família espanhola Farré. O doce foi patenteado em 1958 e, dois anos depois, foi instalada a primeira marquise do Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP) onde, naquela época, costumava-se comemorar o Carnaval.


Pé-de-moleque

Com a chegada da cana-de-açúcar ao Brasil no século XVI, o pé-de-moleque surgiu a partir da mistura do amendoim torrado (um produto natural da América Latina) à rapadura, trazido pelos escravos (originário das Ilhas Canárias, na Espanha).


O cultivo do amendoim no Brasil estabeleceu-se de modo particular na região do Acre, em 1959. "Quando os imigrantes do Japão chegaram a Quinari, em 1959, o plano era viver da borracha da seringueira. Pelo menos, era o que prometia o governo brasileiro da época que incentivou a ida dos japoneses para lá. Mas, sem assistência, o cultivo e a produção não evoluíram como o esperado, e das 13 famílias que se instalaram na região inicialmente, apenas duas remanesceram. Uma delas é a de Hiroschi Nishizawa, que desembarcou no Brasil aos 4 anos de idade. (...). A família passou então, a cultivar uma outra variedade, mais comum no Brasil, chamada de vermelhinho por ser pequeno e de casca vermelha. Por dez anos, o cultivo desse amendoim ajudou no sustento da casa." (5)



(Ichi e Masashi Nishizawa, anos 70, pioneiros no cultivo do amendoim - Foto: Nippobrasil)


(Moendas dos engenhos, século XVI - Ilustração: autor desconhecido)


Considerada a capital nacional do pé-de-moleque, a cidade de Piranguinho, no sul de Minas Gerais, produz o doce há mais de 75 anos. "A festa é realizada desde 2006 e já começou com a fabricação de um pé de moleque gigante, na época com 11 metros de comprimento. Com o passar dos anos, o tamanho foi aumentando e desta vez, o doce chegou a marca de 16 metros de comprimento, mais que o suficiente para adoçar a noite de todo mundo." (6)





Vinho quente e quentão


Originária do árido Cáucaso, na Ásia, a uva é uma das frutas mais antigas utilizadas na alimentação humana; sua origem vem de 6.000 a.C. As antigas civilizações elegeram deuses como os dadores do vinho: Dionísio (Grécia), Osíris (Egito) e Baco (Roma).


(Mosaico bizantino do deus Dionísio - foto: Mitologia Grega)


(Vinho no Egito Antigo - Fonte: Papo Fandangos)


Foi por intermédio dos Fenícios e dos Gregos que o vinho chegou à Europa. Com a ocupação romana, a cultura do vinho consolidou-se na Europa central. No Brasil o cultivo da videira começou em 1535, na Capitania de São Vicente trazida pelos portugueses, tendo grande impulso com a imigração italiana nos estados de São Paulo e da região sul.




"Foi o próprio Martin Afonso de Souza que trouxe as primeiras mudas de uvas aos trópicos. Em 1532, as primeiras videiras foram plantadas por ele na Capitania de São Vicente (região sudeste do País). (...) As tentativas de cultivo, contudo, não frutificaram, devido ao clima e solo das regiões sudeste e nordeste onde foram inicialmente introduzidas. (...) Com claro objetivo de proteger a sua produção de uvas, os portugueses acabaram inibindo completamente o cultivo e comercialização de vinho no País. A vitivinicultura brasileira permaneceu longos anos como uma atividade privada e doméstica." (7)

Mesmo com a chegada de milhares de imigrantes italianos no Brasil em 1875, o cultivo da uva para a produção de vinho ainda era comprometida, sendo interrompida pelo ataque de doenças que dizimaram boa parte das videiras plantadas. "A década de 80 representa uma virada na produção de vinho no Brasil. É a partir deste período que começa a ocorrer a reconversão de vinhedos (troca do sistema latada por espaldeira), passando ao cultivo de variedades européias da espécie Vitis vinifera – base para a elaboração de vinhos de alta qualidade. É nesta época que começa uma efetiva profissionalização do plantio e das técnicas enológicas nas vinícolas." (8)


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Fontes:
(1) "Arroz doce" (Saludaes.pt)

(2) "Milho" (Planetaeducacao.com.br)

(3) "Doces típicos" (Vidasimples.abril.com.br)

(4) "Maçã do amor" (Revistamirabilia.com)

(5) "Amendoim" (Nippobrasil.com.br)


(6) "Piranguinho" (G1.globo.com/economia/agronegocios)

(7) "Vinho" (Vinhosdobrasil.com.br)

(8) "Vinho" (Vinhosdobrasil.com.br)

4 comentários:

  1. Muito legal:) obrigada por me ajudar com meu trabalho

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  2. obrigada por ter me ajudado eu estava preocupada nao conseguia encontra em lugar nam um

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  3. obreigada sabe como e trabalho de escola

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