27 de Setembro - Cosme e Damião

Os gêmeos Acta e Passio (os nomes reais de Cosme e Damião) nasceram na Síria, no século III, onde estudaram Medicina. Mais tarde, exerceram a profissão na Egéia e na Ásia Menor. Por recusarem receber qualquer tipo de pagamento eram chamados anargiros, ou seja, "desafeitos ao dinheiro". A riqueza que mais os atraía era fazer de sua arte médica também o seu apostolado para a conversão dos pagãos, o que conseguiam a cada dia mais.


(Os irmãos gêmeos Acta e Passio - Cosme e Damião - Fonte: Internet)


Isso, obviamente, despertou a ira do então imperador, Diocleciano. Implacável perseguidor dos cristãos, os irmãos Cosme e Damião foram presos e acusados de feitiçaria, sendo forçados a negar sua fé. Negando a aceitação dos deuses pagãos, foram condenados à morte, em Ciro (Síria), onde foram sepultados. Muitos esforços foram feitos para demonstrar que Cosme e Damião não existiram de fato, na tentativa de serem considerados apenas a versão cristã dos filhos gêmeos pagãos de Zeus (Castor e Pólux).


(Castor e Pólux, filhos de Zeus - Museu do Prado, em Madrid - Fonte: Wikipedia)


(Castor e Pólux formariam a constelação de Gêmeos - Fonte: Internet)


Segundo o mito dos filhos de Zeus, após a morte de Castor, Pólux teria recusado sua imortalidade enquanto permanecesse separado de seu irmão. Zeus não pôde convencer Hades, o deus dos mortos, a trazer Castor novamente à vida, ficando então acertado que os irmãos Castor e Pólux passariam metade do ano nos infernos e a outra metade, no Olimpo. (Uma outra versão mitológica nos diz que Zeus teria transformado Castor e Pólux na constelação de Gêmeos).

São Cosme e São Damião são considerados os padroeiros dos Farmacêuticos, das Faculdades de Medicina, dos barbeiros e cabeleireiros. São também os protetores dos orfanatos, creches e das doceiras.


(Igreja dos Santos Cosme e Damião, em Igarassu, na região
metropolitana do Recife/PE - Fonte: Photography discussions)


No Brasil, em 1530, a igreja de Igarassu, em Pernambuco, consagrou os irmãos Cosme e Damião como padroeiros. (Vale lembrar que foi nesse período que o então Rei de Portugal, D. João III, organizou a primeira expedição com objetivos de colonização, comandada por Martin Afonso de Souza. O principal objetivo era povoar o território brasileiro, expulsando os invasores e iniciando o cultivo de cana-de-açúcar). "O europeu que, forçando a tradição bíblica, fizera do deus dos hebreus o rei dos homens, agora tinha de incluir aquela indianidade pagã na humanidade do passado." (1)

Na Umbanda, Cosme e Damião foram crianças que desenvolveram a vocação para medicina desde muito cedo, colocando em prática seus conhecimentos na área. Eles teriam morrido com cerca de 40 anos e a oferenda de balas serviria para que os doadores protegessem os espíritos de seus filhos, preservando-os contra doenças. Na Umbanda, além de Cosme e Damião também é homenageado Doum, igualmente médico e pediatra, espírito Ogum (que teria desfrutado de vida terrena). 


(Ibejì ou Ìgbejì, a divindade gêmea da vida, protetor dos gêmeos,
segundo a mitologia Yorubá - Fonte: Internet)


Na tradição católica, a festa a Cosme e Damião é celebrada em 26 de Setembro. Já no Candomblé, as oferendas realizadas pelo Umbandismo se estendem de hoje (27 de Setembro) até o dia 12 de Outubro (Dia das Crianças e também de Nossa Senhora Aparecida, pela tradição católica). O ritual consiste em depositar, em um jardim ou parque, doces, refrigerante de guaraná, velas azuis (para homenagear meninos) e rosas, para meninas. Durante a festa em comemoração aos santos gêmeos, as igrejas e os templos das religiões afro-brasileiras são enfeitados com bandeirolas e alegres desenhos.


(Altar dos Santos Cosme e Damião - Foto: Marco Boaventura - Fonte: Internet)


Entre as divindades africanas, Ìgbejì indica a contradição, os opostos que caminham juntos, a dualidade. Ìgbejì mostra que todas as coisas, em todas as circunstâncias, têm dois lados e que a justiça só pode ser feita se as duas medidas forem pesadas. Na África, o Ìgbejì é indispensável em todos os cultos; seu poder jamais pode ser negligenciado, pois o que um Orixá faz, Ìgbejì pode desfazer porém, o que um Ìgbejì faz, nenhum outro Orixá desfaz. 

O Erê, comumente confundido com Ìgbejì é, na verdade, segundo os preceitos da Umbanda, o intermediário entre a pessoa e seu Orixá, "é o aflorar da criança que cada um guarda dentro de si; reside no ponto exato entre a consciência da pessoa e a inconsciência do Orixá. É por meio do Erê que o Orixá expressa sua vontade, que o noviço aprende as coisas fundamentais do Candomblé, como as danças e os ritos específicos de seu Orixá." (2). A música "O Erê", da banda Cidade Negra, revela as características do estado pueril e inocente do Erê: "O mundo visto / De uma janela / Pelos olhos / De uma criança / O Erê, é a criança / Sincera, convicção / Fazendo a vida / Como o sol nos traz... / Você sabe / Que o sentimento não trai / Um bom sentimento não trai..."






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Fontes:
(1) RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. Ed Companhia das Letras, São Paulo, 1995.

(2) "Erê" (http://pt.wikipedia.org/wiki/Erê)

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